Le Temps... a surpresa do amor, o mistério da vida... resposta ao tempo...
Uma boa conversa via
internet, repentinamente, me faz atravessar o tempo...meu interlocutor
encontra-se em Argel, capital da Argelia, visitando sua terra de origem,
já que vive na França, desde tenra idade.
O tempo, eu me pergunto, para que ele serve, na vida e na morte das
pessoas. Tem tantas histórias que o tempo engrandece e outras tantas que
ele apaga, o tempo revela coisas antes impublicáveis mas também pode
sepultar para sempre amores que não vingaram, que
não se superaram, que se escafederam, para surpresa de corações
pulsantes que um dia acreditaram em amores eternos. Mas, como não
imaginar que a eternidade seja a própria brevidade do mistério que é a
vida. Que são 80 ou 100 anos na história de alguém ou da
própria humanidade? São nada ou quase nada. Para se respeitar algo
consistente em termos de tempo, faz-se mister contar centenários ou
milênios, talvez mais um pouco, ou talvez menos? Um amor que dura meses é
amor também? Mais do que o tempo de sua duração,
a intensidade dos seus sentimentos ou a fortaleza dos seus propósitos?
Quem sabe o inquietante ir e vir de expectativas ou mesmo a surpresa dos
sentidos incontroláveis, sejam hormonais ou racionais? Corpos que se
glorificam, brilhando em torno da luz de alguma
boa fala, em qualquer língua dissonante...Salam!!! saudo meu amigo
árabe, meu amigo francês, meu amigo argelino, em momento feliz por saber
que ele existe e eu também. Saber que é possível atravessar as ondas do
tempo, através dos ventos, alcançar terras distantes,
perceber a magia dos encontros que a vida oferece e apesar de tudo, crer
na efemeridade do nosso tempo por aqui, nossa passagem por um mundo tão
intenso e misterioso, tão diferenciado em raças, hábitos, culturas,
histórias...
Do outro lado, meu amigo me fala de Farfar. Sua vila de nascimento, de
onde saiu aos 3 anos para viver com a família, em Paris. Avisa-me que no
próximo domingo irá ali, visitará familiares velhinhos, alguns beirando
os 100 anos, que por lá fincaram raízes,
onde ele reencontrará suas origens, enquanto ainda há tempo para trocar
algo substancial ou espiritual com sua própria gente.
Falo que no Rio de Janeiro o calor está grassando, ele me diz que lá
está muito frio. Rimos juntos das nossas falas entrecortadas em línguas
díspares, um pouco do francês, de minha parte, mal escrito, uma dose
consensual de inglês, algumas saudações em espanhol
e árabe, palavras soltas em português, que tento explicar,
principalmente no que diz respeito ao futebol, do qual ele é fã
inconteste.
Ele me diz que ama o Brasil desde 1970, desde a Copa do Mundo. Já se
passaram mais de 40 anos e no entanto, as imagens daquela Copa estão
marcadas em mim e nele, que nem sequer imaginávamos um dia nos
conhecermos ou falarmos sobre isso.
A vida segue, cheia de surpresas, os amores que confessamos são tão
importantes quanto os que nem ousamos imaginar, os mistérios do tempo
nos enveredam por almas religiosas ou não, aí está a física para provar (
ou pretenciosamente questionar) que não há espaço-tempo,
no final das contas.
O mundo roda, gira a Terra, somos o nosso próprio tempo, em corpos que
se buscam ou se bastam, que se desenvolvem ou se desgastam, em mentes
que se surpreendem ou se deterioram, em crenças que se arraigam ou se
amansam, aí vamos nós...
Ao nos despedirmos, podemos dizer Au revoir, Salam, Adiós, Até logo, Bye, ou somente... silenciar , com o tempo...
Ao nos reencontrarmos, qualquer dia desses, talvez em Paris, talvez no
Rio de Janeiro, quem sabe em que tempo, poderemos zombar do tempo, como
faz a Nana, na canção...ou será que o tempo é que zomba de nós? Vou
voltar no tempo e re-ouvir a música...Resposta
ao tempo, uma das mais lindas que já escutei, pode ser que, com o tempo,
eu consiga decifrar quem de nós controla o próprio tempo ou
simplesmente o joga pelo ralo com as águas da chuva?
Ah, lembrei...o tempo ri, na letra da canção...vale a pena passar como o tempo passa...
Diz que somos iguais...ele é o tempo...
Nós somos o que ele nos deixa ser...
Isso me consola...pelo menos, agora...
Maria Aparecida Torneros
Nenhum comentário:
Postar um comentário