terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Quem não traz seus Natais dentro do peito ?

Quem não traz seus Natais dentro do peito ?





Cida Torneros

 
Quando o Natal chega, todos os anos, não há como evitar, ela lembra de muitos Natais da sua vida. Recorda-se do carrinho azul que viu seu irmão brincar há mais de oito décadas, em manhã de um dezembro distante no tempo, mas tão presente na memória e aí, ela sorri.Naquele tempo, eles moravam numa casa grande, com quintal arborizado, no subúrbio que marcou sua infância feliz. Como eram bons aqueles Natais, de folguedos e birnquedos, família e vizinhos, amigos e simpatícos agregados, trocando abraços, sorrisos e pratos saborosos.Saudade das rabanadas da portuguesa Filomena, dos bolinhos de bacalhau feitos carinhosamente pela vó Luzia, e como era delicioso o frango com lentilhas que a mãe Maria preparava. Vinham em ondas aquelas imagens de pessoas e lugares, evoluindo para a sua adolescência, seus primeiros amores e finalmente, abrindo o baú, nas tardes lentas da velhice, pegava as fotos amareladas do seu casamento com Joaquim e dos seus filhos meninos, Luizinho e Bentinho.Agora, morando num asilo para velhice, Anita se desmancha em sentimentos de saudade, justamente nessa época natalina. Sabe que a sensibilidade lhe aflora ao peito, faz dela uma criatura mole que nem manteiga derretida, a pensar no tempo que correu célere e no quanto foi possível aproveitar a vida, lutar pela criação dos filhos, tê-los visto se formarem, ter segurado nos braços netos que também tinham crescido.A doce Anita de oitenta e tantos anos, ali, naquela casa de repouso e senilidade, traz dentro de si, muitos Natais presos no peito, e, quando as atendentes chamam para a ceia da noite Santa, busca enfeitar-se com seu melhor vestido, o azul royal, de golinha rendada e branca, para juntar-se à sua nova família, senhoras e senhores que dividem com ela, seus momentos de lazer e de oração, refeições frugazes e a certeza do dever curmprido.Conclama a todos que rezem agradecendo aquela comida especial e tão bem cuidada, sorri em reverência a cada amigo ou amiga que lhe cumprimenta. Repete um 'Feliz Natal' que imagina seja o mesmo que seus filhos e netos estejam desejando aos amigos e amigas neste momento em algum lugar, apesar de não receber há muito sua visita, mas lhe mandaram presentes, como chinelos, sabonetes e colônias. Um motorista veio trazer uns dias antes.Explicou que todos tinham viagem marcada e que telefonariam, se pudessem, no dia de Natal, para ela.Anita pensa que já tem um bisneto que nunca viu, ele deve ter uns cinco anos, ela reflete.Tudo bem, Anita pensa: - Deixai-os viver Senhor Jesus, e protejei-os, meu Pai do Céu. Meus filhos ainda são meninos para mim, apesar de cinquentões. E meus netos, já na casa dos trinta, têm muitas responsabilidades, filhos e trabalho, tenho que entender sua falta de tempo e só quero que todos estejam felizes, nesta Noite, como eu estou, aqui, tão bem cuidada.Repentinamente, como se fosse um Anjinho de Natal eis que surge no salão de refeições do asilo, um menino risonho, correndo, que dispara na direção da vovó Anita, para abraçá-la, o que faz com que todos interrompam o jantar e observem a cena- Quem é você, lindo pequerrucho? Anita indaga, extendendo as mãos e acolhendo o infante arfante.- Vc é minha vó Anita, eu vi no retrato que a meu vô Bento me mostrou. Eu pergunto a ele todo dia onde vc mora. E hoje, que é Natal, pedi a ele que queria ver a minha vó Anita... Tô aqui, na sua casa, né? vim passar o Natal com vc, né? vc quer esperar o Papai Noel comigo?Anita ri... vê que agora entram no refeitório, seu filho Bento, a nora, os pais do guri risonho, seu neto e esposa, e os observa, com certa perplexidade, pois há muitos Natais que não os vê e pensava que estavam todos a viajar nos feriados de final de ano, conforme lhe dissera o potador dos presentinhos, dias antes.Mas, Bento, com jeito de filho arrependido, vem dizer à mãe, emocionado, que o pequeno Joaquinzinho não aceitou viajar. Convenceu a todos a irem visitar a bisavó, que ele vivia beijando no retrato, chegou a ficar febril a repetir que só queria ver a vó Anita no Natal, e esperar, com ela, pela chegada do Papai Noel.Anita foi aplaudida pelos companheiros e companheiras de asilo. Agradeceu a visita, abraçou o bisneto, o filho e toda a família, convidou-os a sentarem à mesa. Manteve o menino no colo, que a acariciava, enquanto se pergunta, internamente: - Quem não traz seus Natais dentro do peito?Este Natal é mais um deles, que ela jamais esquecerá, e fará parte da lista de Natais do Quinzinho, daqui a algumas décadas, com certeza!

Simone: " Então é Natal", com as Meninas Cantoras de Petrópolis no Faustão

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Amores trapaceiros em balanço de final de ano!

A noite, em Copacabana, era momento de brinde, muito chope rolando, na Avenida Atlântica, um mesmo restaurante de tantos anos, o grupo de amigos festejando o final do ano, a cada tim-tim, repetíamos: ao Amor!! e assim foi, por horas, quando já, na madrugada, voltando pra casa, o som da palavra "amor" reverberava dentro de mim... Amor, quantas vezes teremos provado de suas trapaças, e, porque, num processo freudiano, tendemos a reprisar comportamentos que julgamos, sob o ponto de vista racional, que beiram a estupidez, ou se alicercam em jogadas trapaceiras?







Pois dormi pensando nisso. Acordei pensando nisso. Fiz um balanço oportuno, desses que costumamos nos dar o direito íntimo de fazer na época de Boas Festas, lembrei de amores de uma vida inteira, lembrei de amores de novela, amores de cinema, amores de literatura, amores trágicos, amores passionais, amores que justificaram crimes, amores que propiciaram poder, amores que se perderam, amantes que viveram comédias, que se enganaram mutuamente, amantes que se amaram a si mesmos, usando o outro apenas como espelhos para sua sede narcisista, amantes que se doaram e renunciaram para deixar que seus parceiros seguissem livres e pudessem tentar novos rumos em busca da tal felicidade.






Aí, uma canção melosa, antiga, bem latina, bem nostálgica, me veio na memória, dos tempos em que eu editava um jornal espanhol e o cantor Julio Iglesias estava no auge da sua carreira. Ele veio ao Brasil, no início dos anos 80, eu participei de uma entrevista coletiva sua, em São Paulo, o homem jogava charme em todas as direções, tinha um marketing perfeito para vender o tal amor trapaceiro.






A letra da música, que ele também gravou em português, ressurgiu em mim, como um troféu para "amantes" , os tais que são estúpidos, se deixam levar por impulsos, vão no olho do furacão, se embrenham no vendaval, atores em cena, buscando representar e voar enquanto a vida segue em meio a desencontros, afastamentos, saudades arrefecidas, vidas divididas, e, na maturidade, um dia, vem o final do ano, chegam os tais pensamentos que nos fazem sentir o quanto fomos ( e somos) estúpidos, em conceituar e viver certos amores trapaceiros. Um inconsciente sado-masoquista, quem sabe, proporcionado por um mundo imaginário, o lugar das "briguinhas" por amor, mas o tempo, impiedoso, ultrapassando o orgulho, a questão de sofrer por amor, como se isso fosse uma regra básica para que a felicidade nos inundasse, e, de repente, vemos que tudo poderia ter sido diferente.






"Se eu pudesse a vida mudar", prega o cantante, como uma chicotada da saudade, numa atitude impensável, e ainda assim, tão trapaceira e marketeira, como se o lamento por tudo que se passou, essa maneira de julgar sentimentos como se eles fossem deveres legalizados, estivessem escritos não nas estrelas, mas no código civil, conferindo à loucura da paixão um lugar inconcebível, onde coubesse razão em lugar de impulso.






Não há como voltar atrás, os amores vividos, quase sempre tiveram sua dose de trapaça consentida, faz parte do jogo, é lícito e legal sentir ciúmes, provocar também, brigar e reconciliar, ter saudades e reencontrar-se com o amor, numa rodada de chope, ainda que seja num brinde que vira mantra... Repetir o tim-tim ao amor, permitir que ele se reverbere internamente, que sua meladeira contagiosa nos inunde de muitas saudades, muitas lembranças, espelhos do tempo estradeiro, coisas fortes entranhando memórias, espaços feridos de corações amadores, aprendizes de jogadas que deviam se transformar em golpes de mestre, mas que, no fundo, não passaram de "blefes", ou melhor, podem ser classificadas como tentativas cujos acertos ou erros, não nos cabe juízo de valor, justamente agora, se não há como " poder mudar a vida".






Então, mais prudente, honesto, saudável, é olhar para a frente, seguir vivendo, amando, aprendendo a vencer novos amores trapaceiros, fingir que tudo será diferente, prometer-se uma isenção quase alienada, comprometer-se com a paz de uma alma amante da emoção, pronta para voar como gaivotas sobre mares imensos, disposta a enveredar pelas artimanhas dos grandes encontros, sem dispensar a malícia e o sabor passageiro dos pequenos arremedos do bendito amor...






Feliz final de ano para os amores, todos, os trapaceiros, principalmente, porque é deles o enredo que move a indústria cinematográfica, a produção literária, a poesia , a música, a pintura, a escultura, sua saga inunda o planeta, com arte e ilusão, passemos pois à contagem regressiva, vamos saudar o amor, eu e tu, como na velha canção melosa que a voz do cantante latino trouxe de volta ao meu "coração vagabundo". Tim-tim!










Cida Torneros

julio iglesias - tu y yo

Julio Iglesias en vivo tu y yo 1985 Live mexico

Tu e Eu Julio Iglesias

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

AMÀLIA /**Tive um Coração, Perdí-o**/

Tive um coraçao perdi-o (Cristina Branco)

AMALIA RODRIGUES "MEU AMOR, NEU AMOR"

8-Amália Rodrigues,"Amor sou tua".

deolinda - não sei falar de amor (live @ cinema são jorge, lisboa)

FUXAN OS VENTOS - Nana para un amante

Mulher (Woman). Fuxan os ventos

O MEU AMOR MARIÑEIRO Fuxan os Ventos

presuntos implicados - ESPERARE (letra)

AMOR MIO, Diana Navarro

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Inventei palavras

Inventei palavras
 
Inventei palavras
tão frágeis,
que, embora,
pensei, fossem ágeis,
se perderam no tempo,
se diluíram,
nas saudades infindas,
de tardes tão lindas,
de noites bem-vindas,
quando a vida nos juntava,
em abraços sinceros, eu acreditava,
em beijos marcantes, eu achava,
em prazeres eternos, eu sei agora,
porque já que é pra sempre, se adora
a lembrança, a memória,
se escreve a história,
de nós dois,
de um casal
de namorados amantes,
um canal
das palavras,
dos sonhos e dos desejos:

não viverei jamais sem receber seus beijos,
só viverei porque os apanho cada dia,
no vento que sopra daí pra cá, pela via
do pensamento, da nossa eterna sintonia...

Inventei palavras...
como se inventa a vida...
acho...
e me escondi entre elas...
me achei deveras...
em priscas eras...
nos sons e significados...
descobri estados...
ora líquidos...
ora gelados..
sólidos...
gasosos...
ares...
cantares...
ciganos sentidos...
inventei gemidos...
criei sustenidos...
compus sinfonias...
encontrei noites vadias...
como a de agora, da cheia lua...
renasci com luz que incendeia..
iluminei minha alma na tua...
inventei o amor até... cadeia...
e me prendi para sempre nessa teia...

Cida Torneros
Publicação: www.paralerepensar.com.brr 15/09/2006

Beijos de baton

 
Beijos de baton

Vermelhos lábios de macho marcam teu corpo de mulher
beiços borrados de cor e sabor, em forma de talher...

São eles a fantasia dos desejos, a tatuagem dos mistérios,
porque nivelam o mundo dos sexos de dois hemisférios,
equilibrando os opostos que se atraem e se traem nas funções,
sôfregos atos de busca dos prazeres, da entregas, dos senões...

E tu, fêmea delirante, percebes a surpresa nele, a perplexidade,
a revelação de um segredo inconsciente, na verdade...
Observas a felicidade, o poder do encontro, a eternidade
do casal que vive assim, da descoberta da própria animalidade...

Pena não seres dele a companheira e cúmplice, a parceira,
lastimas o fato de estarem assim como pássaros viajantes,
e, juntos, não terem construído o ninho no momento que passou,
no instante que não aconteceu no dia certo, nos anos idos...

Mas, peregrina das paixões, amante dos pães de cada dia,
nos desjejuns com tulipas, com cores, sabores, tantos amores...
Por que não agradecer somente agora, essa chance passageira
esses dias de sol, noites de lua cheia, esses minutos vividos,
enquanto a história se borra de baton e se anuvia...??????

Ri da cena, da brincadeira, do despojamento, da besteira...
Ri, pra seres mais verdadeira, da certeza de alcançar a alma
do homem que te faz das mulheres resolvidas, a mais inteira...

Da próxima vez que os beijos de baton acontecerem, tenha calma!
Observa a importância da atitude, a doação da amizade,
reflete em ti, muito mais, bem mais ainda a doce saudade...
A saudade dessa boca que te marca, sobe e desce,
e, num ufanismo feminista, vê nele o homem que jamais te esquece...

Cida Torneros
Publicação: www.paralerepensar.com.brr 15/09/2006

sábado, 11 de dezembro de 2010

Solteirice explicita


Ambos estavam solteiros. Depois de seus casamentos longos, filhos criados, namoros intensos e alguns recomeços, falaram sobre o tema da solteirice explícita. Lugar comum para cinquentões libertos de tantas amarras anteriores. Decisões personalistas, escolhas resolvidas entre mil e uma possibilidades, a opção de sairem sozinhos aos lugares públicos, desfrutando de si mesmos, da própria companhia, tanto nas salas de cinema como nas mesas dos restaurantes.



Tinham, finalmente até, o direito de recusar parceiros que não lhes interessavam, preferindo a solidão reflexiva e pródiga de maturidade conquistada.


Estavam solteiros, mas não tinham assinado nenhum documento que os obrigasse a permanecer nesse estado de intenso livre arbítrio, entremeado da inconsciente busca de alguém que os motivasse a voltar a amar.


Se bem que sempre se reconheciam amando a vida, a si mesmos, suas famílias, tantos amigos e amigas. Esse tipo de amor lhes inundava os dias. Mas o amor de casal acasalado, amor de busca entre macho e fêmea, lhes sufocava as madrugadas.


Sabiam o quanto era difícil garimpar alguém que lhes encaixasse em desejos, hábitos e expectativas de vida. Confidenciaram-se. Aliás, o tempo, nos dois últimos anos de constantes encontros profissionais, lhes fora favorável, lhes oferecendo uma dose respeitável de confiança mútua e amizade crescente.


Seus abraços eram tão carinhosos quanto aconchegantes.


Suas confissões eram desmascaradas, e, de tão sinceras, remetiam a capítulos de novela romântica ou trágica, dependendo do humor em suas sessões semanais.


Os olhos se encontraram depois de dois meses afastados. Havia satisfação e segurança na troca desse olhar questionador que os tornava caçador e caça, faces opostas de uma mesma moeda, como signos cuja dualidade é a fonte do seu status sólido.


Como um mágico que tira um coelho branquinho da cartola, ele a surpreendeu com jeito de pedinte do amor. Ela, por sua vez, mudou o foco e o viu, pela primeira vez como um homem, apenas como um homem, não mais como um amigo profissional com quem se reunia todas as semanas.


Então, num gesto impensado e impulsivo, ele segurou as mãos dela, juntas, de uma só vez, a uma distância menor que um metro, puxando-a para aconchegar-se no seu peito.


Ela fechou os olhos. Deixou-se levar pelo sentimento pleno. Era só isso. O carinho do homem solitário, lhe oferecendo segurança emocional e vontade de ficar ali pelo resto da vida.


Mas, em seguida, meio envergonhados, despediram-se.


Marcharam em busca de alguns sonhos realizáveis. Viagens, escrita de livros, camaradagem humana, e um ponto contou a seu favor para que se tornassem um novo casal de namorados.


Ele , o psicanalista, ela, a paciente, ambos, solteiros, cinquentões, com filhos criados, sede de viver um novo amor, talvez até um novo casamento.


Quando chegou em casa, ela pensou em agradecer a ele pela sessão que acabava de ter com ele. Esclarecedora, cada palavra dita por ele, soara como um libelo para o caminho dela, que o achava sem rumo, sentindo-se perdida como uma vaca solta num imenso pasto.


Compreendeu então que estava livre para escolher que espécie de capim devia comer, onde devia se proteger do verão intenso e talvez pular alguma cerca que ainda a separava da vida lá fora.


Agradeceu a ele, via recado no celular. Ainda assim, esperou por ele por muitas noites e orou por ele, nas manhãs ensolaradas e nos dias nublados.


Ambos estavam solteiros, continuaram a cruzar seus olhares, perdoaram seus arrepios constantes, expuseram-se então, e num dia de sábado, ele a convidou para jantar.


Fundiram-se em um único olhar durante todo o encontro. Ainda permaneceram solteiros distanciados por um bom período. Suficiente foi esse tempo que se permitiram, para refletir sobre o que sentiam e o que esperavam um do outro. Resumiram numa palavra pequena, gasta, corriqueira, mas plena de significados. Amor... essa palavra pôs fim ao seu longo tempo de solteiros, e dali em diante, passaram a ter duas casas, duas camas, dois endereços, duas chances individuais de replantar seu jardim e colher flores para enfeitar seus domicílios. A partir desse dia, buscaram estar juntos, sempre que fosse possível, necessário e prazeroso. E abandonaram o estado "civil"izado, em cerimônia íntima e simbólica, concorrida por familiares e amigos.


A partir de então seriam solteiros aconchegados e próximos. Continuaram a morar em suas casas anteriores e a preservar a tal intimidade tão violada nos dias de hoje. Assim, seriam eternamente visitas na casa um do outro, e brindariam para sempre, juntos, o tal Valentine's Day, a cada fevereiro, numa promessa gratificante, enquanto pudessem ficar assim, solteiros, amigos, amantes, presentes, carinhosos e saudosos um do outro, explicitando um novo modus vivendi, entre os novos solteiros do século XXI. Se realmente viriam a contrair matrimônio, nem eles mesmos sabiam responder. Apenas tinham uma certeza, sua solteirice era compartilhada entre si, e seus sentimentos os entrelaçavam em rituais de carinho e sensualidade, com salutar distância das suas intimidades. Tinham encontrado um modo de viver que os agradava, e seu amor era tão real quanto suas almas podiam alcançar, pois se descobriram felizes e se amando verdadeiramente. Mesmo assim, preferiram continuar solteiros, inteiros, parceiros, amigos, amantes e admiradores um do outro pelo resto de suas vidas. Seriam como dois pássaros a voarem para se bicarem e beijarem todas as vezes que necessitassem um do outro.


Aparecida Torneros

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Julio Iglesias - El amor

Julio iglesias - Despues de ti

Julio Iglesias - Todo el amor que te hace falta

Julio Iglesias - Lo Mejor De Tu Vida (Orginal)

Soy Un Truhan Soy Un Senor - Julio Iglesias

Julio Iglesias & Roberto Carlos - Solamente una vez

Roberto Carlos - Abrazame Así

Roberto Carlos - Adios

AMOR PERFECTO - ROBERTO CARLOS

sábado, 4 de dezembro de 2010

A Bárbara Iansã

A Bárbara Iansã







É fogo! Diria a menina desavisada, diante do seu impasse inusitado quando o mundo parece se dividir em milhões de pedaços incandescentes e são tantos os caminhos a escolher para trilhar.






A luz entontece, a alma se confunde, o peito explode, o universo se faz borbulha de vulcão interno. Ser mulher e ser guerreira se torna sinônimo nessa vida moderna, onde cada boca pintada com batom luminoso grita o coro das corajosas em fila indianamente formada para abraçar felicidade e futuro.






No vai que vai, a senhora prometida amansa as intempéries, mulher quebra tabus, avança no caminho da decisão, ama seu homem, seus filhos, enfrenta a tempestade da sobrevivência. Como formiguinha carregadeira de tarefas, ela viaja nos coletivos que a destinam ao trabalho diário, e sonha com a identificação da deusa mista, nas figuras de Bárbara e Iansã.






- Sou filha de Iansã! Repete a jovem afogueada e risonha, batendo com a mão espalmada sobre o coração na cadência de cada novo dia.






Isso acontece na Bahia, em termos regionais, mas se espalha pelo Brasil, como um inconsciente disseminado através de arquétipos femininos repetidamente cantados nas canções populares e nas festividades do 4 de dezembro.






Mulher de briga, cada filha dela, nada tem a temer quando se posta diante do desafio optando por ser representante do milagre fecundo da procriação.






O fogo dominado pelos bombeiros que invocam sua proteção é mesmo um espectro do calor que vem do útero em furor, da mãe-terra a cuspir labaredas que alimentam fé e glória. Mais que isso, até, chamas que garantem não só a expressão do sincretismo religioso, mas, sobretudo, o teor feminino que só emerge do fogo das paixões.






A menina mestiça que dança nos folguedos da comunidade intui sua condição de seguidora de alma chamuscada, suporte da condição capaz de derreter com olhares, gestos, abraços, beijos, cumprimentos, reverências, volteios, gritos de ordem, cânticos ou lamentos, ladainhas ou “pontos”, rezas ou louvores.






Há que se pedir piedade a Iansã, por cada mãe adolescente, cada mulher vítima da violência doméstica, cada mãe que perde seu filho na loucura do crime, cada esposa cuja ilusão do casamento feliz se esvai no ralo do destrato ou do abandono, cada fêmea em crise existencial, cada executiva imersa no comércio infindo do trabalho em lugar do carinho, cada artista solitária no ofício de emocionar seu público, cada professora empenhada em clarear mentes aprisionadas pela escuridão, cada médica comprometida pela saudável busca do equilíbrio físico e mental, e muitas mais.






Senhora dos relâmpagos, por sobre os mares revoltos, lá vem ela, a Bárbara Iansã, mais uma vez, na ardência do seu estigma, incendiar cada alma feminina, de menina que se faz mulher, a buscar queimar-se na imensidão à sua espera.






Aparecida Torneros

Ponto de Iansã "Maria Bethânia"

Iansã

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

4. Sabes mentir - Djavan / CD Passione Nacional

Sabes mentir

Sabemos mentir...



Nasceu entre nós uma brincadeira de faz de conta
eu fiz de conta que te amei, tu mentiste com muita classe...

Vivemos momentos tão felizes, cheguei a ficar tonta
de tanta felicidade entre nós, como se a vida nos iluminasse...

Houve instantes em que nossos olhos em doce afronta
se perderam um dentro do outro, num perfeito enlace...

Nem pudemos refletir sobre a mania de cada resposta pronta
que trazíamos na  história das nossas vidas, como um passe...

Tínhamos amores frustrados, em nossa história semi-pronta...
Modelos que ousamos repetir, embora isso não nos bastasse...

Mentimos para nós mesmos, na repetida ilusão  que monta
novo quebra-cabeças, xadrez exposto para que se jogasse...

Nem   perdemos, nem ganhamos, somente o empate aponta
o resultado de um sentimento forte, era como se eu te amasse...

Mas talvez tu também tenhas me amado,  um dia, na conta
de um envolvimento emocional incontrolado que te dominasse,

e no auge do  labirinto que  amor é capaz de enredar  cada alma,
eis que a distância nos separa agora, verdade e mentira, a calma,
o  plácido final de um caso, a lembrança de algum beijo doado,
a sensação de  que nem tudo foi perfeito, mas foi laureado,
com a esperança   dos solitários, buscando pares, amores, afetos,
agora, cá estamos, distantes e próximos, saudosos e quietos,
pois nada há mais a fazer nesta   história de mentirosos,
apenas nos resta  mentir mais uma vez...eu digo..."não mais te quero...
tu respondes, nunca te quis verdadeiramente, nem tive contigo amor sincero"...

Cida Torneros

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Mireille Mathieu - La Chanson De Notre Amour

Mireille Mathieu - Adieu, je t'aime (1972)

Mireille Mathieu - Ne me quitte pas, mon amour

Alison Moyet live - Ne Me Quittes Pas

Sting - ne me quitte pas

Jacques Brel - Ne Me Quitte Pas

Julio Iglesias - if you go away - ne me quitte pas

Shirley Bassey - IF YOU GO AWAY

Barbra Streisand - If You Go Away (Ne Me Quitte Pas) - 2009

Maysa - Ne me quitte pas traduzida

Hino ao Amor - Maysa

Maysa - Eu sei que vou te amar

Fantástico - MAYSA QUANDO FALA O CORAÇÃO [ESPECIAL]

domingo, 14 de novembro de 2010

AMOR

Amor, poema de Carlos Drummond de Andrade






Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração para de funcionar


por alguns segundos, preste atenção. Pode ser a pessoa mais importante da


sua vida.






Se os olhares se cruzarem e neste momento houver o mesmo brilho intenso


entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o


dia em que nasceu.






Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante e os olhos


encherem d'água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.






Se o primeiro e o último pensamento do dia for essa pessoa, se a vontade de


ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um


presente divino: o amor.






Se um dia tiver que pedir perdão um ao outro por algum motivo e em troca


receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem mais


que mil palavras, entregue-se: vocês foram feitos um pro outro.






Se por algum motivo você estiver triste, se a vida te deu uma rasteira e a


outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las


com ternura, que coisa maravilhosa: você poderá contar com ela em qualquer


momento de sua vida.






Se você conseguir em pensamento sentir o cheiro da pessoa como se ela


estivesse ali do seu lado... se você achar a pessoa maravilhosamente linda,


mesmo ela estando de pijamas velhos, chinelos de dedo e cabelos


emaranhados...






Se você não consegue trabalhar direito o dia todo, ansioso pelo encontro que


está marcado para a noite... se você não consegue imaginar, de maneira


nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado...






Se você tiver a certeza que vai ver a pessoa envelhecendo e, mesmo assim,


tiver a convicção que vai continuar sendo louco por ela... se você preferir


morrer antes de ver a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida. É uma


dádiva.






Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida, mas poucas amam ou


encontram um amor verdadeiro. Ou às vezes encontram e por não prestarem


atenção nesses sinais, deixam o amor passar, sem deixá-lo acontecer


verdadeiramente.






É o livre-arbítrio. Por isso preste atenção nos sinais, não deixe que as


loucuras do dia a dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: o amor.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Livro Contra-Ataque do Amor desvenda segredos e mistérios do universo feminino

Jornal O Fluminense, 8 de setembro de 2010



Livro Contra-Ataque do Amor desvenda segredos e mistérios do universo feminino




Desvendar os segredos e mistérios do universo feminino, essa é a proposta do livro "Contra-Ataque do Amor", da jornalista e professora universitária Maria Aparecida Torneros. A coletânea de 30 contos e memórias é um verdadeiro tabuleiro de xadrez repleto de sentimentos, emoções, atos irracionais e suas consequências. Um guia para mulheres de todas as idades aprenderem a montar e desmontar todas as peças desse quebra-cabeça chamado amor.


Os instintos amorosos femininos dão o tom dos contos da escritora. A mulher necessária se torna presente nas histórias baseadas ou não em fatos reais na vida de Maria Aparecida Torneros retratando o complexo universo feminino. O livro é leitura obrigatória para os homens e mulheres que se amam. Nele, o leitor apresenderá sobre si, sobre o sexo oposto e como estar sempre disponível para o infalível xeque-mate.

Prefácio: Contra-ataque do amor

Prefácio: Contra-ataque do amor





Quando Aparecida Torneros me pediu para que escrevesse o prefácio de seu segundo livro, imediatamente senti a responsabilidade desta tarefa.



Para estar à altura de prefaciar os contos e memórias desta jornalista, que na maturidade se tornara escritora, precisaria estar inspirado. Então, fui buscar a inspiração aonde deveria, lendo seus contos.


Que delícia! O desafio começara bem, no puro prazer de uma boa leitura. Profundo e ágil fui envolvido por um texto comovente que me transportou ao complexo universo feminino.


De um otimismo inteligente, corajosamente nos sugere poder viver intensamente amores, que mesmo não sendo indissolúveis, e talvez por isso mesmo, tornam-se patrimônios emocionais de quem os vive.

O vigor com que a autora se joga na vida, através de seus personagens femininos chega a ser contagiante, em que o pano de fundo parece ser “tudo vale a pena se sua alma não é pequena”.E quando isto acontece, mesmo as formas juvenis de amar ganha uma dinâmica poética que não nos remete ao tatibitati dos amores imaturos.


Ao contrário,nos abastece de um repertório rico, para corações sensíveis, femininos ou não, de qualquer idade.


Nesta paisagem vão aparecendo as Manoelitas , com inúmeras possibilidades, até mesmo de estar “cheia até os bagos” como seu avô ou qualquer macho que se preze.




Aparecem ainda, Marys e Marias, mulheres jovens , de meia idade, mulheres maduras e a velha senhora de sorriso esperto, aparecem as bruxas e as fadas, a santa dando assistência espiritual e a puta, a sexual.


Nestes contos Aparecida Torneros, com sua marca pessoal, qualifica ainda mais este livro de contos, tornando-o, até mesmo necessário. Tanto quanto “a mulher necessária” que acolhe suas necessidades para estar viva e vibrante, sempre disposta ao infalível contra-ataque do amor.


José Arruda


Psicólogo clínico

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Coeur de Pirate - Printemps

Viajante/ Ney Matogrosso-legendada

Nana Mouskouri "Only Love"

Falem-me de amor... e me compensem o avesso da sorte! (texto de 29 de junho de 2010)

Falem-me de amor... e me compensem o avesso da sorte!




Fui sorteada ao avesso, em pleno sábado, dois assaltos em menos de quatro horas de intervalo.




O primeiro, no caixa eletrônico, de manhã, dois homens bem apessoados levaram-me dinheiro e eu chamei a polícia. Escafederam-se, não me apontaram arma, até um deles me pediu desculpas, mas fiquei sem entender direito sua atitude, chamei-o de "abusado".


Depois, na delegacia, o sub-delegado me disse que eu correra risco de ser nocauteada, sei lá, coisa que o valha. Fiquei brava, com raiva, impotente e nem consegui chorar. No caminho de casa, a pé, usei o celular e eis que um pivete veio correndo, me tomou o dito cujo da mão e saiu correndo. Eu, ora, gritei, tudo que podia, soltei o verbo, impropérios, um homem tentou pegá-lo mas ele era como um maratonista ziguezagueando na contramão do trânsito, pouco mais de meio-dia, sumindo pela rua, como um bólido. Levou com ele minha agenda, para mim, tão preciosa. A companhia telefônica não a resgatou pois eu, inadivertidamente, a salvara no aparelho e não no chip, talvez não seja essa a explicação técnica correta, parece que eu teria que ter um contrato para resgate de agenda em caso de perda ou roubo, mas eu desconhecia isso.


Então, abalada, mas inteira, no final da tarde de suposto "azar", fui ao salão de cabeleireiro e me produzi para ir ao teatro municipal e assistir a partir das oito da noite, a ópera "O Guarani".


Durante algumas horas, voei na música, na história e na intensidade de sentimentos que se misturavam desde o palco até meu assento no balcão superior, de onde eu observava o quanto é compensador ouvir falar de amor.

Uma aura de encanto tomou conta do meu momento. Nem era mais importante lembrar a violência, eu estava ali, tinha a sorte verdadeira de assistir ao espetáculo. A orquestra perfeita, os arranjos maravilhosos, o coro me embalando a um céu de paz, de bons fluidos. Os larápios, pensei de repente, não tinham aquela felicidade a que eu podia ter acesso, quem seriam eles, onde estariam àquelas horas, enquanto desfrutavam do "meu" dinheirinho ou do meu ex-aparelho celular?

Mundo estranho, paradoxal. O pior roubo, pensei, seria se me privassem de ouvir canções e palavras de amor. Em situação semelhante, eu estaria mesmo "roubada", pois o amor é o ar que preciso respirar, quando ele me chega pelas notas musicais, pelas vozes cadenciadas, por olhares sensíveis, ouvidos atentos, enlevos sonoros, sons de fagotes, oboés, harpas, violinos, instrumentos de sopro, maviosos cantos de tenores, contraltos, baixos, enternecedores diálogos musicais que expressam a alma humana em sua pura existência, na plenitude de doar-se a quem ama sem roubar-lhe a sede de viver, oferecendo-lhe oxigênio em forma de carinho, dedicação, fidelidade e aconchego.


Passados poucos dias, vou me reorganizando, comprei novo aparelho, refaço a agenda, refaço contas para superar o dinheiro perdido, agradeço as oportunidades que a vida me dá para refletir suas paradoxais intempéries, sigo e supero.



Ouço então a voz doce da grega Nana Mouskouri, na calada da madrugada, sozinha, e consigo pela primeira vez, desde aquele sábado, verter uma lágrima, emociono-me. Eu não tinha conseguido chorar, em face das investidas dos ladrões, tinha sentido muita impotência, mas, durante o espetáculo clássico, somente me arrepiei sem extravazar a confusão de sentimentos represados que acumulei naquele dia.

Mais dois dias e nada. Só a sensação de fazer parte de um mundo moderno e louco, de uma sociedade imperfeita, de uma cadeia de omissões sociais, de uma humanidade capaz de auto-agredir-se, de violentar-se, de ludibriar-se, de mentir, de usurpar seu semelhante, mas, claro, não é a totalidade da espécie, é parcela dela, é um lado da transgressão, uma fatia do bolo social, talvez a banda podre do inconsequente descaso com que certa camada ou classe tenha sido tratada.


E o amor? Acho que o ladrão que me pediu desculpas, mesmo me roubando, tinha um ínfimo arremedo dele, ao me observar possessa, reclamante, ameaçando chamar a polícia,certamente, transtornada e doida, pois ele e seu comparsa podiam ter me derrubado fisicamente, mas não o fizeram. Fugiram, deixaram-me sem o dinheiro, mas com a cabeça intocada, o corpo tremendo, mas de pé, o olhar perplexo, mas aguçado em direção ao que veria mais tarde.


Um teatro lindo restaurado, um conjunto de atitudes que são fruto do amor à arte, à cultura, ao estudo da música, vidas inteiras de pessoas que ali sintonizavam a meiguice e a fortaleza que só uma ópera é capaz de despertar em seus altos e baixos, seus volteios e ápices, a viagem dos sonhos, o esquecimento das vicissitudes do mundo lá fora.


O amor, falem-me dele, por favor. Falem-me sempre. Repitam que o amor é a compensação do avesso da sorte. Deixei que desfilassem no meu pensamento, durante a ópera, imagens de carinho, afeto, familiares, amigos, amores que se foram, amores que sobrevivem, amores que virão. Agora, consigo verbalizar os acontecimentos, com a devida isenção me permitindo superar medos, minimizar ódios, buscar perdões interiores, agradecer chances e amar o amor, o mesmo amor que tanto inebria como atormenta, que acrescenta horizontes, que se bifurca em encruzilhadas escuras, mas que sabe encontrar caminhos de luz, nas horas certas, quando alguém se apaixona, perdidamente, ou renuncia ao amor, ou o persegue, ou dele foge, ou por ele morre, ou para ele vive, além da própria morte.


Se me vierem falar de algo concreto, como o episódio violento de um assalto na grande cidade, por favor, compensem-me repetidamente, contando histórias de amores inesquecíveis, amantes capazes de se entregarem aos prazeres, enamorados sonhadores, criaturas que esperam por toda a vida por um par que os compreendam, os acompanhem, lhes segurem as mãos, caminhem ao seu lado, por décadas, embevecendo suas almas, desafligindo, sobretudo, seus corações. Sem entretanto, roubarem tampouco sua esperança por momentos felizes ou sequer a crença na bondade humana que ainda é possível, se o amor também o for.


Cida Torneros

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Ney Matogrosso - Entrevista Beijo Bandido

NEY MATOGROSSO /CD BEIJO BANDIDO /FAIXA A FAIXA

Ney Matogrosso - MEDO DE AMAR (VIRE ESSA FOLHA DO LIVRO)

Manuel da Costa Pinto, novo curador da Flip

Entrevista: Manuel da Costa Pinto, novo curador da Flip



"O peso da literatura brasileira na Flip será maior, até pela minha proximidade com os autores"


Rodrigo Levino


Manuel da Costa Pinto, curador da Flip






Manuel da Costa Pinto, o novo curador da Festa Literária Internacional de Paraty (Cristovao tezza)






"Há muitos autores estrangeiros que são do nosso interesse e vamos reforçar os convites. O que não torna proibitiva a vinda de autores que já estiveram em edições passadas"






O jornalista Manuel da Costa Pinto foi anunciado hoje (20) como o novo curador da Festa Literária Internacional de Paraty, que acontece há oito anos na cidade litorânea do Rio de Janeiro. Costa Pinto assumirá o lugar de Flavio Moura, também jornalista, que esteve à frente da programação nos últimos três anos.






A Flip, que recebe um público estimado em 25.000 pessoas por edição, moldou o formato de eventos literários no Brasil sob vários aspectos. Promoveu debates e leituras com autores disputados como Paul Auster, Salman Rushdie, J.M. Coetzee e Amoz Oz; deu espaço a novos escritores brasileiros, como Daniel Galera e Carola Saavedra; ratificou os consagrados e deslocou o centro literário para fora do eixo Rio-São Paulo – as festas de Outro Preto (MG) e Porto de Galinhas (PE) foram criadas a partir do modelo da Flip.






Nos últimos anos, porém, a festa vem recebendo fortes críticas a respeito da lista de convidados (autores repetidos, poucos brasileiros) e do formato das mesas de discussão, onde não raro dão-se problemas de mediação ou falta de empatia entre os debatedores. Em 2010, houve queixas sobre a presença excessiva de acadêmicos em detrimento de escritores.






Ainda assim, a Flip é o evento literário mais importante do país e goza de boa reputação no exterior. Manuel da Costa Pinto, é inegável, assume a curadoria sob a égide da reclamação. Jornalista, colunista do jornal Folha de S. Paulo, diretor do programa Entrelinhas, da TV Cultura e mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada na USP, ele falou ao site de VEJA sobre o novo desafio.






Como se deu o convite para ser curador da Flip?


Eu sempre tive boas relações com a Flip. Em 2008, quando Machado de Assis foi o autor homenageado da festa, ajudei a montar o acervo em exposição, uma parceria com o Instituto Moreira Salles. O meu nome surgiu de um consenso entre Mauro Munhoz [diretor da Fundação Casa Azul, que promove a Flip] e Flavio Moura [ex-curador].






A última edição da Flip recebeu críticas contundentes no que diz respeito à escalação dos autores brasileiros. Dos sete ficcionistas convidados, seis já haviam participado de edições passadas. Diz-se que há um descompasso entre a produção literária contemporânea e os nomes convidados. A próxima Flip terá mais autores brasileiros?


O peso da literatura brasileira na Flip será maior, até pela minha proximidade com autores, consagrados ou iniciantes. Mantenho uma coluna sobre literatura na Folha de S. Paulo, dirijo o Entrelinhas [TV Cultura] que é voltado para a literatura, escrevi dois livros sobre literatura brasileira. Isso me deixa bem a par do que está sendo produzido. Acho que a Flip deve buscar um maior equilíbrio entre a quantidade de escritores estrangeiros e a de escritores brasileiros. Trabalharemos nesse sentido, embora equacionar esse problema não seja algo fácil nem aconteça do dia para a noite.






Outra crítica que se faz à Flip é sobre o formato das mesas de debate. Algumas por terem autores demais, outras de menos; problemas de mediação. O formato não estaria saturado?


A priori não há plano para mudar o formato das mesas. Embora seja até temeroso dizer isso, já que tudo ainda é muito prematuro. Daqui a duas semanas alguma ideia pode surgir nesse sentido. Mas eu diria que é cedo para tratar desse assunto.






A Flip 2010 foi marcada pelo cortejo à academia. Dos 34 autores convidados, só 16 tinham atividade literária. A edição de 2011 será focada em algum tipo de tematização?


Eu não acho que isso seja tematização. Posso dizer que pretendo trabalhar melhor a integração entre a Flip e a Flipinha. Temos grandes autores infantis e infanto-juvenis que precisam ser levados para a Tenda dos Autores por vários motivos: a qualidade do que escrevem, o enorme público que agregam e sobretudo para não caracterizar a Flip como um evento segmentado.






Depois de oito edições, a lista de autores estrangeiros consagrados e disponíveis parece estar se esgotando, não?


Há muitos nomes que são do nosso interesse e vamos reforçar os convites. O que não torna proibitiva a vinda de autores que já estiveram em edições passadas.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Calcinha Preta - Você não vale nada mas eu gosto de você

Domenico Modugno - La Distancia es como el viento

RAZON DE VIVIR VICTOR HEREDIA HIGH QUALITY

Víctor Heredia - Razón de vivir

Razão para viver, razão de viver, razão , motivação, emoção...viver é razão e emoção, viver é emocionar-se sem razão, ou com razão, viver é nem ter razão aparente, e ter emoção subjacente, é como inspirar sem ver o ar, mas sentir que o pulmão se infla com algo inconsistente, diáfano, impalpável, mas presente...Um presente , dizem, a Vida, com ou sem razão, ela vem e vai, ela briga na sua natureza procriadora, e os seres nascem, são concebidos, a vida vence na maioria das vezes, numa luta permanente, contra o descaso de quem não a valoriza, ela segue, tem suas verdadeiras razões, perpetuando espécies, construindo porquês compreensíveis algum dia, ainda que nem sejam racionais agora, um dia, provavelmente, explicações científicas provarão seus caminhos em prol da sobrevivência, a despeito das guerras e dos senões, a  Vida vai, e tem, por certo, razões que a própria razão desconhece...
Cida Torneros 

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Ivete e Geraldo Azevedo De volta pro aconchego

A vida, alem da cozinha?

A vida, além da cozinha?

Bem, meu bem, tem lá fora, um sonho de amor aqui, entre cebolas que me fazem chorar, tenho nas mãos, os vegetais, a natureza em flor, vou cortando, descascando, macerando, os elementos exalam cheiros, as águas fervem, mergulham-se temperos, a alma a fritar...
Bem, meu bem, tem lá fora, a paisagem da lagoa enquanto dentro de mim, alguns sentidos se erguem vindo das minhas bisavós e ancestrais, chegando, em mim, suas dores e cantos, a beira do fogão, o fogo colorido, a chama forte, abaixa o fogo, diz a chefe da cozinha, pra não estragar a comida, fogo demais não pode...põe mais água, pega o cuentro, os tomates, a farinha, busca o azeite de dendê, mistura o tempo nas panelas, mistura decidida, que nada é mais importante que a comida a manter as almas e os corpos em movimento...
Além da cozinha, tem o mundo, lá fora...tem a vida... aqui dentro, pega o vinho, bebe um gole, me dê, me dê um abraço, por trás, cheirando o vento que espalha o amor, que impregna a feitiçaria, que daqui a pouco irá para o prato, para a boca, para o estômago, para o cérebro, para o espírito, mesclando a lida, o trabalho, a lagoa, a alegria, juntando todos em torno da mesa, ritual primitivo em torno do fogo da gula, que é a cozinha da vida.


Cida Torneros