segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Cuando vivas comigo...

Novembro, século XXI, 2010. Minha amiga liga de Alicante. Está em férias, eu a substituo, em seu trabalho, deseja saber se está tudo bem, digo que fique tranquila, tenho dado conta e que aproveite sua estada na Europa. Ela me descreve a emoção da Itália, onde passou  umas duas semanas, com o novo namorado, um inglês que vive no sul da Espanha.  Conta sobre Veneza, Milão, Florença, Gênova e Roma. Diz que chorou ao ver o Coliseu, tanta história,  sensibilidade  humana, fala do quanto se lembrou de mim pois tem certeza de que eu vou adorar aqueles lugares. Respondo-lhe que irei, brevemente. Pergunto sobre o novo amor. Ela vibra, tem na voz a inquietude adolescente de uma mulher de 50 anos, e o chama ao telefone para que eu repita o que acabei de lhe dizer: Bring him with you to Brasil! Ele me ouve, rapidamente, diz que virá passar aqui o ano novo, quer conhecer o país da sua amada, também transmite o som dos enamorados no tom melodioso que o amor imprime à voz humana.

Tenho testemunhado amores, meus e dos outros, vida afora. Vibro sempre. Afinal, amar é um prêmio que nos é oferecido na existência, quando somos capazes de doar, oferecer, admirar, compartilhar, colocar-se ao lado, torcer a favor,  dividir as agruras, comemorar as vitórias, padecer as dores, acumular energias  positivas para usá-las nas horas difíceis.

Lembro então de uma canção, estilo guarânia ,  intitulada,quando vivas comigo, interpretada pelo espanhol Julio Iglesias. Um homem de cabeça branca que promete oferecer juventude a  uma mulher pela qual está apaixonado. Oferece aulas de amor, para  aquela que poderá aprender com ele a querer como nunca soube fazê-lo antes, diz que seu amor sem o amor dela nada vale, vai ensiná-la os segredos do amor, quando viverem juntos. Singela, simples, direta, preciosamente afetiva, traduz o cerne das promessas de amores cheios de esperança.

Quantas vezes terei ouvido promessas semelhantes? Ainda bem que as ouço, de vez em quando, no limiar do tempo passado e na doçura do tempo presente, de bocas sedentas de carinho, talvez  mergulhadas na ilusão do amor perfeito, aquele que não chega nunca.

Mas, os amores que vem e vão, as tais aves de verão, os sentidos universais de  bem estar e carinho, estes  são reais, vibram nas vozes dos apaixonados, repercutem nos peitos dos enamorados, reverberam nas vozes dos  presenteados por momentos inesquecíveis, os tais instantes de amor, que vivem contigo, comigo, conosco, com nossos amigos e amigas, lá no fundo dos seus corações, no âmago das suas almas, na emoção mais profunda dos monumentos históricos onde  é possível chorar ao ver como o ser  humano é capaz de ultrapassar milhares de anos, séculos de impérios , como foi o romano, o grego, o inca, centenas deles, com  uma vertente que os sustentou, a sede  de conquistar espaços físicos e emocionais.

O amor, este sempre esteve, está e estará, no pano de fundo que enseja a busca da realização humana. Estou feliz com a felicidade da minha amiga e do seu novo amor.

Ouço a música, imbuída da certeza de que, quando vivas comigo, saberás o que posso ensinar, mas eu também, decerto, aprenderei a ser menos egoísta, a ter a contemplação dos sábios, e trocaremos flores em lugar de farpas, brindaremos a luz do sol ao invés dos clarões das bombas, abraçaremos nossos corpos luminosos , apesar da morte.
                                 Maria Aparecida Torneros

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