Cida Torneros 
  G1 – Máquina de Escrever – Luciano Trigo
  
‘A guerra está declarada’ já é candidato a melhor filme do ano
qui, 05/01/12
     
por Luciano Trigo |
categoria Todas
   
   
   
    
Quando Romeo e Juliette se conhecem numa balada, especulam, 
brincando, se não estariam condenados, pelos nomes, a um destino 
trágico. Jovens e felizes, após pouco tempo de namoro eles ganham um 
filho, Adam. O bebê representa para o casal algo muito maior e mais 
difícil  que o desafio do amadurecimento e da responsabilidade: com 18 
meses, Adam recebe o diagnóstico de um tumor no cérebro. Seguem-se, 
inevitavelmente, a angústia, o medo e a incerteza. Destino?
Não deve existir abismo maior que a perspectiva da perda de um filho,
 e o processo de assimilação dessa realidade terrível é encenado com 
sensibilidade e delicadeza pela atriz e diretora Valérie Donzelli. A guerra está declarada,
 que recebeu vários prêmios no último Festival de Cannes e é o 
representante da França na disputa pelo Oscar de melhor filme 
estrangeiro deste ano, é simultaneamente alegre e trágico, celebrando e 
afirmando a vida em meio ao cenário desolador da doença e da morte. 
O filme, cuja história é baseada em fatos vividos pela própria cineasta,
 estreia nesta sexta-feira no Rio de Janeiro.
A inventiva linguagem narrativa de A guerra está declarada 
apresenta uma inocência e um frescor que evocam os primeiros filmes da 
Nouvelle Vague. Combina de forma inusitada, por exemplo, músicas suaves 
com cenas nervosas, e vice-versa, com sons e imagens econômicos e 
levemente sujos e mal acabados – o que aumenta o efeito de verdade das 
situações, sem abrir mão da poesia. A trilha musical, que vai de Vivaldi
 a Laurie Anderson, passando por uma versão instrumental de ‘Manhã de 
Carnaval’, acrecenta significados, mais do que ilustra o estado 
emocional dos personagens.
O estranhamento é amplificado pela voz em off, que narra e 
dá um tom fabular ao drama vivido pelo jovem casal em sua jornada sem 
fim por consultórios médicos e corredores de hospitais, onde o bebê é 
submetido a tratamentos caros e incertos. Diante de uma exasperante e 
dolorosa corrida de obstáculos, Romeo e Juliette sofrem e se isolam, mas
 também se obrigam a sorrir, brincar, achar graça nas coisas, ao mesmo 
tempo em que refazem a teia de laços afetivos e familiares que os 
contextualiza como personagens.  Conservam a ternura, mesmo nos momentos
 de maior dor. Entenderam, talvez, que mais importante que aquilo que 
nos acontece é a maneira como reagimos, pelo menos até onde é possível 
escolhermos como reagir.
 
 
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