Um fim de tarde, quando a Primavera sopra sua brisa fria, no barquinho, vou deslizando sobre o Sena. Ali, milhões de histórias passam por mim, sei que talvez eu me aproprie delas, da mesma forma que em séculos, outros seres românticos e sonhadores, revivem os contos de amor que aquele lugar proporciona.
O imaginário humano supera os dramas, minimiza as dores, ultrapassa os ódios, reinventa as felicidades, busca a alegria do bom encontro, cultiva a paz do sonho realizado e se eterniza.
Sei que Paris sempre me espera. Para ser contemplada por meus olhos adolescentes e decifrada por minhas emoções maduras. Nada é mais profundo do que inspirar sua aura histórica, degustar seus sabores anestesiantes e amar seu intenso gozo de estar vivo, mais uma vez, para desfrutar o souvenir de cada instante parisiense.
Como explicar a maravilha que o seu despertar me presenteou em 2009? O sol surgia através das vidraças da janela e no vagão restaurante do trem, procedente de Barcelona, eu observava a cidade acordando. Era ela, sim, era a famosa Paris que finalmente, aos 59 anos, eu ia conhecer. Lágrimas escorreram no meu rosto. A menina suburbana carioca chegava à capital francesa, trazendo a intuição da paixão que a sensibilidade de poeta deixava aflorar.
Foram dias especiais, 6 ou 7, antes de pegar o vôo de volta ao Brasil.
Trouxe, naquela ocasião, a certeza de que voltaria.
Pois, dois anos depois, desci no Charles de Gaulle, vislumbrei Paris do alto, ela me esperava também em maio, com sua primavera geladinha, seus croassants quentinhos, o mesmo hotel Cujas Pantheon, os passeios a pé nas manhãs do Jardin de Luxemburgo.
Vivo sonhando com a terceira vez. Aos 65 anos, tenho um amor em Paris, desses que atraem a gente para ir, passar temporada, esticar a viagem, criar raizes, compreender mais sua cultura, absorver melhor suas verdades, perdoar de vez suas mentiras, apascentar deus delírios de rebanho inquieto e florescer um muguet branquinho, sorvendo um bom vinho, comendo um bom queijo, ouvindo a java numa esquina do quartier latin.
Paris me espera em realidade e nos sonhos. Enquanto não volto, estudo francês, preparo o coração. Há uma sensualidade guardada em mim que vai desabrochar nas suas noites, sei disso, coisa de alma vagante a procura de pouso amoroso. Na paz de uma manhã que abracarei ternamente, serei amada por Paris, e por ele, eternamente.
Cida Torneros
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