terça-feira, 19 de agosto de 2014

o reencontro no fim de tarde


Ele e eu nos revemos por acaso.
-VOCÊ ESTÁ BONITA!
Ele diz, com espontaneidade. Era meu vizinho por mais de dez anos. Mudou-se há alguns meses e no dia sa despedida, aquele homem de quase dois metros, 20 anos mais jovem que eu, ao me abraçar,  chorou, surpreendendo-me.
Estamos no fim de tarde, ele veio buscar o filho adolescente na escola em frente,  estou saindo e nos esbarramos. Nosso reencontro é carinhoso, respeitoso e seu elogio me soa sincero.
A beleza está nos olhos de quem a vê.  Sei que estou abatida, mas arrumadinha. Tudo é bem rápido,  a energia que trocamos paira no ar como somatório de promessas vagas.
Nosso até breve tem jeito de "quem dera pudessemos ultrapassar barreiras e nos entendermos melhor.
Fica no espaço a sensação prazerosa de bons augúrios.  
Caminho em direção à casa da minha mãe.  Ele aguarda o filho e nossas vidas seguem rumos diversos.
Um dia, eu o chamei tuaregue, nos tempos em que me circundava e pedia um café. Não mais o barulho dacsua moto. O vizinho solitário como eu, que cuidava do filho que vi crescer.
 Pairava entre nós a delicadeza e havia um acordo mudo em torno da mirada intensa. Nossas conversas foram superficiais e sinceras,  os anos nos deram a confiança da proximidade fisica de casas grudadas e, muitas vezes, nos cumprimentamos percebendo que nossos humores oscilavam. 
Sorrimos e contamos historinhas de vida. O tempo passou. 
Ao nos reencontrarmos talvez seja mesmo o instante de vermos a beleza que ainda cultivamos em corações que se sintonizam,  batem no compasso da boa vizinhança.  
E a noite veio. Há meses, na casa ao lado, vive o silêncio do vizinho e a placa de vende-se anuncia que por ali passou alguém cuja presença bonita refletia a minha.
Cida Torneros  

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