O vento me acordou cedo, na virada, com seu uivo forte. Saltei da cama indo prepara o café, repensei a preguiça de ir à rua, com atividades pendentes e entediantes, como a ida na Receita Federal, adiada n vezes, a radiografia do ombro, que dói muito, solicitada pelo médico, a passada na manicure, pequenos cuidados que avida impõe no seu curso normal. Mas, ao parar na sala, para assistir ao noticiário da manhã, contraponho as informações carregadas de perigos, violências, apreensões, com a imagem que observo no meu ambiente de paz caseira. Decido fotografar meu canto, uma galeria que retrata minha paz. A sabedoria felina, presente, meus filhotes se espalham no aconchego do velho sofá. Sobre eles, quadros pintados por amigos, refletem, na parede, minha busca pela harmonia pessoal e solitária. Gosto de me sentir diante desta galeria, podendo ser parte dela. A vida é um ciclo constante, altos e baixos que se alternam, minha saúde anda instável, mas procuro tratar, e, uma preocupação com minha mãe velhinha, constitui um desafio diário ao conviver com seus limites e temores.
Nada é tão fácil ou tão simples. Por telefone, nos falamos ontem, à noite, ela me contou que se orgulhou do discurso da Presidenta Dilma, na ONU. Aos quase 87 anos, apesar da pouca visão, mamãe é atenta feminista, e me incentiva, sempre.
Minha galeria de paz tem caráter de refúgio e abstração. Sei que parece isolamento, mas aprendi a construir minha identidade com a olhada no espelho do meu intenso olhar para mim mesma e o reflexo nas pessoas com quem convivi ou convivo.
Leitura, música, filmes, orações, escritas, tarefas rotineiras e descansos abusivos, complementam minhas horas que vagam entre meus sonhos, medos, crenças, decepções, conquistas e , em manhãs de ventania, uma certa revisão de expectativas.
Em paz, apesar das dúvidas, além das dívidas, das dores, prezo as flores, respeito os sensores que detectam perigos que tentem roubar minha paz, troféu que ganho, a duras penas, à custa de renúncias, desapegos, aprendizagem e aceitação múltipla das rasteiras e voltas que a vida nos dá.
Salve a galeria da minha paz!
Cida Torneros
Paz! Muita paz!
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