terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Quem não traz seus Natais dentro do peito ?

Quem não traz seus Natais dentro do peito ?





Cida Torneros

 
Quando o Natal chega, todos os anos, não há como evitar, ela lembra de muitos Natais da sua vida. Recorda-se do carrinho azul que viu seu irmão brincar há mais de oito décadas, em manhã de um dezembro distante no tempo, mas tão presente na memória e aí, ela sorri.Naquele tempo, eles moravam numa casa grande, com quintal arborizado, no subúrbio que marcou sua infância feliz. Como eram bons aqueles Natais, de folguedos e birnquedos, família e vizinhos, amigos e simpatícos agregados, trocando abraços, sorrisos e pratos saborosos.Saudade das rabanadas da portuguesa Filomena, dos bolinhos de bacalhau feitos carinhosamente pela vó Luzia, e como era delicioso o frango com lentilhas que a mãe Maria preparava. Vinham em ondas aquelas imagens de pessoas e lugares, evoluindo para a sua adolescência, seus primeiros amores e finalmente, abrindo o baú, nas tardes lentas da velhice, pegava as fotos amareladas do seu casamento com Joaquim e dos seus filhos meninos, Luizinho e Bentinho.Agora, morando num asilo para velhice, Anita se desmancha em sentimentos de saudade, justamente nessa época natalina. Sabe que a sensibilidade lhe aflora ao peito, faz dela uma criatura mole que nem manteiga derretida, a pensar no tempo que correu célere e no quanto foi possível aproveitar a vida, lutar pela criação dos filhos, tê-los visto se formarem, ter segurado nos braços netos que também tinham crescido.A doce Anita de oitenta e tantos anos, ali, naquela casa de repouso e senilidade, traz dentro de si, muitos Natais presos no peito, e, quando as atendentes chamam para a ceia da noite Santa, busca enfeitar-se com seu melhor vestido, o azul royal, de golinha rendada e branca, para juntar-se à sua nova família, senhoras e senhores que dividem com ela, seus momentos de lazer e de oração, refeições frugazes e a certeza do dever curmprido.Conclama a todos que rezem agradecendo aquela comida especial e tão bem cuidada, sorri em reverência a cada amigo ou amiga que lhe cumprimenta. Repete um 'Feliz Natal' que imagina seja o mesmo que seus filhos e netos estejam desejando aos amigos e amigas neste momento em algum lugar, apesar de não receber há muito sua visita, mas lhe mandaram presentes, como chinelos, sabonetes e colônias. Um motorista veio trazer uns dias antes.Explicou que todos tinham viagem marcada e que telefonariam, se pudessem, no dia de Natal, para ela.Anita pensa que já tem um bisneto que nunca viu, ele deve ter uns cinco anos, ela reflete.Tudo bem, Anita pensa: - Deixai-os viver Senhor Jesus, e protejei-os, meu Pai do Céu. Meus filhos ainda são meninos para mim, apesar de cinquentões. E meus netos, já na casa dos trinta, têm muitas responsabilidades, filhos e trabalho, tenho que entender sua falta de tempo e só quero que todos estejam felizes, nesta Noite, como eu estou, aqui, tão bem cuidada.Repentinamente, como se fosse um Anjinho de Natal eis que surge no salão de refeições do asilo, um menino risonho, correndo, que dispara na direção da vovó Anita, para abraçá-la, o que faz com que todos interrompam o jantar e observem a cena- Quem é você, lindo pequerrucho? Anita indaga, extendendo as mãos e acolhendo o infante arfante.- Vc é minha vó Anita, eu vi no retrato que a meu vô Bento me mostrou. Eu pergunto a ele todo dia onde vc mora. E hoje, que é Natal, pedi a ele que queria ver a minha vó Anita... Tô aqui, na sua casa, né? vim passar o Natal com vc, né? vc quer esperar o Papai Noel comigo?Anita ri... vê que agora entram no refeitório, seu filho Bento, a nora, os pais do guri risonho, seu neto e esposa, e os observa, com certa perplexidade, pois há muitos Natais que não os vê e pensava que estavam todos a viajar nos feriados de final de ano, conforme lhe dissera o potador dos presentinhos, dias antes.Mas, Bento, com jeito de filho arrependido, vem dizer à mãe, emocionado, que o pequeno Joaquinzinho não aceitou viajar. Convenceu a todos a irem visitar a bisavó, que ele vivia beijando no retrato, chegou a ficar febril a repetir que só queria ver a vó Anita no Natal, e esperar, com ela, pela chegada do Papai Noel.Anita foi aplaudida pelos companheiros e companheiras de asilo. Agradeceu a visita, abraçou o bisneto, o filho e toda a família, convidou-os a sentarem à mesa. Manteve o menino no colo, que a acariciava, enquanto se pergunta, internamente: - Quem não traz seus Natais dentro do peito?Este Natal é mais um deles, que ela jamais esquecerá, e fará parte da lista de Natais do Quinzinho, daqui a algumas décadas, com certeza!

Simone: " Então é Natal", com as Meninas Cantoras de Petrópolis no Faustão

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Amores trapaceiros em balanço de final de ano!

A noite, em Copacabana, era momento de brinde, muito chope rolando, na Avenida Atlântica, um mesmo restaurante de tantos anos, o grupo de amigos festejando o final do ano, a cada tim-tim, repetíamos: ao Amor!! e assim foi, por horas, quando já, na madrugada, voltando pra casa, o som da palavra "amor" reverberava dentro de mim... Amor, quantas vezes teremos provado de suas trapaças, e, porque, num processo freudiano, tendemos a reprisar comportamentos que julgamos, sob o ponto de vista racional, que beiram a estupidez, ou se alicercam em jogadas trapaceiras?







Pois dormi pensando nisso. Acordei pensando nisso. Fiz um balanço oportuno, desses que costumamos nos dar o direito íntimo de fazer na época de Boas Festas, lembrei de amores de uma vida inteira, lembrei de amores de novela, amores de cinema, amores de literatura, amores trágicos, amores passionais, amores que justificaram crimes, amores que propiciaram poder, amores que se perderam, amantes que viveram comédias, que se enganaram mutuamente, amantes que se amaram a si mesmos, usando o outro apenas como espelhos para sua sede narcisista, amantes que se doaram e renunciaram para deixar que seus parceiros seguissem livres e pudessem tentar novos rumos em busca da tal felicidade.






Aí, uma canção melosa, antiga, bem latina, bem nostálgica, me veio na memória, dos tempos em que eu editava um jornal espanhol e o cantor Julio Iglesias estava no auge da sua carreira. Ele veio ao Brasil, no início dos anos 80, eu participei de uma entrevista coletiva sua, em São Paulo, o homem jogava charme em todas as direções, tinha um marketing perfeito para vender o tal amor trapaceiro.






A letra da música, que ele também gravou em português, ressurgiu em mim, como um troféu para "amantes" , os tais que são estúpidos, se deixam levar por impulsos, vão no olho do furacão, se embrenham no vendaval, atores em cena, buscando representar e voar enquanto a vida segue em meio a desencontros, afastamentos, saudades arrefecidas, vidas divididas, e, na maturidade, um dia, vem o final do ano, chegam os tais pensamentos que nos fazem sentir o quanto fomos ( e somos) estúpidos, em conceituar e viver certos amores trapaceiros. Um inconsciente sado-masoquista, quem sabe, proporcionado por um mundo imaginário, o lugar das "briguinhas" por amor, mas o tempo, impiedoso, ultrapassando o orgulho, a questão de sofrer por amor, como se isso fosse uma regra básica para que a felicidade nos inundasse, e, de repente, vemos que tudo poderia ter sido diferente.






"Se eu pudesse a vida mudar", prega o cantante, como uma chicotada da saudade, numa atitude impensável, e ainda assim, tão trapaceira e marketeira, como se o lamento por tudo que se passou, essa maneira de julgar sentimentos como se eles fossem deveres legalizados, estivessem escritos não nas estrelas, mas no código civil, conferindo à loucura da paixão um lugar inconcebível, onde coubesse razão em lugar de impulso.






Não há como voltar atrás, os amores vividos, quase sempre tiveram sua dose de trapaça consentida, faz parte do jogo, é lícito e legal sentir ciúmes, provocar também, brigar e reconciliar, ter saudades e reencontrar-se com o amor, numa rodada de chope, ainda que seja num brinde que vira mantra... Repetir o tim-tim ao amor, permitir que ele se reverbere internamente, que sua meladeira contagiosa nos inunde de muitas saudades, muitas lembranças, espelhos do tempo estradeiro, coisas fortes entranhando memórias, espaços feridos de corações amadores, aprendizes de jogadas que deviam se transformar em golpes de mestre, mas que, no fundo, não passaram de "blefes", ou melhor, podem ser classificadas como tentativas cujos acertos ou erros, não nos cabe juízo de valor, justamente agora, se não há como " poder mudar a vida".






Então, mais prudente, honesto, saudável, é olhar para a frente, seguir vivendo, amando, aprendendo a vencer novos amores trapaceiros, fingir que tudo será diferente, prometer-se uma isenção quase alienada, comprometer-se com a paz de uma alma amante da emoção, pronta para voar como gaivotas sobre mares imensos, disposta a enveredar pelas artimanhas dos grandes encontros, sem dispensar a malícia e o sabor passageiro dos pequenos arremedos do bendito amor...






Feliz final de ano para os amores, todos, os trapaceiros, principalmente, porque é deles o enredo que move a indústria cinematográfica, a produção literária, a poesia , a música, a pintura, a escultura, sua saga inunda o planeta, com arte e ilusão, passemos pois à contagem regressiva, vamos saudar o amor, eu e tu, como na velha canção melosa que a voz do cantante latino trouxe de volta ao meu "coração vagabundo". Tim-tim!










Cida Torneros

julio iglesias - tu y yo

Julio Iglesias en vivo tu y yo 1985 Live mexico

Tu e Eu Julio Iglesias

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

AMÀLIA /**Tive um Coração, Perdí-o**/

Tive um coraçao perdi-o (Cristina Branco)

AMALIA RODRIGUES "MEU AMOR, NEU AMOR"

8-Amália Rodrigues,"Amor sou tua".

deolinda - não sei falar de amor (live @ cinema são jorge, lisboa)

FUXAN OS VENTOS - Nana para un amante

Mulher (Woman). Fuxan os ventos

O MEU AMOR MARIÑEIRO Fuxan os Ventos

presuntos implicados - ESPERARE (letra)

AMOR MIO, Diana Navarro

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Inventei palavras

Inventei palavras
 
Inventei palavras
tão frágeis,
que, embora,
pensei, fossem ágeis,
se perderam no tempo,
se diluíram,
nas saudades infindas,
de tardes tão lindas,
de noites bem-vindas,
quando a vida nos juntava,
em abraços sinceros, eu acreditava,
em beijos marcantes, eu achava,
em prazeres eternos, eu sei agora,
porque já que é pra sempre, se adora
a lembrança, a memória,
se escreve a história,
de nós dois,
de um casal
de namorados amantes,
um canal
das palavras,
dos sonhos e dos desejos:

não viverei jamais sem receber seus beijos,
só viverei porque os apanho cada dia,
no vento que sopra daí pra cá, pela via
do pensamento, da nossa eterna sintonia...

Inventei palavras...
como se inventa a vida...
acho...
e me escondi entre elas...
me achei deveras...
em priscas eras...
nos sons e significados...
descobri estados...
ora líquidos...
ora gelados..
sólidos...
gasosos...
ares...
cantares...
ciganos sentidos...
inventei gemidos...
criei sustenidos...
compus sinfonias...
encontrei noites vadias...
como a de agora, da cheia lua...
renasci com luz que incendeia..
iluminei minha alma na tua...
inventei o amor até... cadeia...
e me prendi para sempre nessa teia...

Cida Torneros
Publicação: www.paralerepensar.com.brr 15/09/2006

Beijos de baton

 
Beijos de baton

Vermelhos lábios de macho marcam teu corpo de mulher
beiços borrados de cor e sabor, em forma de talher...

São eles a fantasia dos desejos, a tatuagem dos mistérios,
porque nivelam o mundo dos sexos de dois hemisférios,
equilibrando os opostos que se atraem e se traem nas funções,
sôfregos atos de busca dos prazeres, da entregas, dos senões...

E tu, fêmea delirante, percebes a surpresa nele, a perplexidade,
a revelação de um segredo inconsciente, na verdade...
Observas a felicidade, o poder do encontro, a eternidade
do casal que vive assim, da descoberta da própria animalidade...

Pena não seres dele a companheira e cúmplice, a parceira,
lastimas o fato de estarem assim como pássaros viajantes,
e, juntos, não terem construído o ninho no momento que passou,
no instante que não aconteceu no dia certo, nos anos idos...

Mas, peregrina das paixões, amante dos pães de cada dia,
nos desjejuns com tulipas, com cores, sabores, tantos amores...
Por que não agradecer somente agora, essa chance passageira
esses dias de sol, noites de lua cheia, esses minutos vividos,
enquanto a história se borra de baton e se anuvia...??????

Ri da cena, da brincadeira, do despojamento, da besteira...
Ri, pra seres mais verdadeira, da certeza de alcançar a alma
do homem que te faz das mulheres resolvidas, a mais inteira...

Da próxima vez que os beijos de baton acontecerem, tenha calma!
Observa a importância da atitude, a doação da amizade,
reflete em ti, muito mais, bem mais ainda a doce saudade...
A saudade dessa boca que te marca, sobe e desce,
e, num ufanismo feminista, vê nele o homem que jamais te esquece...

Cida Torneros
Publicação: www.paralerepensar.com.brr 15/09/2006

sábado, 11 de dezembro de 2010

Solteirice explicita


Ambos estavam solteiros. Depois de seus casamentos longos, filhos criados, namoros intensos e alguns recomeços, falaram sobre o tema da solteirice explícita. Lugar comum para cinquentões libertos de tantas amarras anteriores. Decisões personalistas, escolhas resolvidas entre mil e uma possibilidades, a opção de sairem sozinhos aos lugares públicos, desfrutando de si mesmos, da própria companhia, tanto nas salas de cinema como nas mesas dos restaurantes.



Tinham, finalmente até, o direito de recusar parceiros que não lhes interessavam, preferindo a solidão reflexiva e pródiga de maturidade conquistada.


Estavam solteiros, mas não tinham assinado nenhum documento que os obrigasse a permanecer nesse estado de intenso livre arbítrio, entremeado da inconsciente busca de alguém que os motivasse a voltar a amar.


Se bem que sempre se reconheciam amando a vida, a si mesmos, suas famílias, tantos amigos e amigas. Esse tipo de amor lhes inundava os dias. Mas o amor de casal acasalado, amor de busca entre macho e fêmea, lhes sufocava as madrugadas.


Sabiam o quanto era difícil garimpar alguém que lhes encaixasse em desejos, hábitos e expectativas de vida. Confidenciaram-se. Aliás, o tempo, nos dois últimos anos de constantes encontros profissionais, lhes fora favorável, lhes oferecendo uma dose respeitável de confiança mútua e amizade crescente.


Seus abraços eram tão carinhosos quanto aconchegantes.


Suas confissões eram desmascaradas, e, de tão sinceras, remetiam a capítulos de novela romântica ou trágica, dependendo do humor em suas sessões semanais.


Os olhos se encontraram depois de dois meses afastados. Havia satisfação e segurança na troca desse olhar questionador que os tornava caçador e caça, faces opostas de uma mesma moeda, como signos cuja dualidade é a fonte do seu status sólido.


Como um mágico que tira um coelho branquinho da cartola, ele a surpreendeu com jeito de pedinte do amor. Ela, por sua vez, mudou o foco e o viu, pela primeira vez como um homem, apenas como um homem, não mais como um amigo profissional com quem se reunia todas as semanas.


Então, num gesto impensado e impulsivo, ele segurou as mãos dela, juntas, de uma só vez, a uma distância menor que um metro, puxando-a para aconchegar-se no seu peito.


Ela fechou os olhos. Deixou-se levar pelo sentimento pleno. Era só isso. O carinho do homem solitário, lhe oferecendo segurança emocional e vontade de ficar ali pelo resto da vida.


Mas, em seguida, meio envergonhados, despediram-se.


Marcharam em busca de alguns sonhos realizáveis. Viagens, escrita de livros, camaradagem humana, e um ponto contou a seu favor para que se tornassem um novo casal de namorados.


Ele , o psicanalista, ela, a paciente, ambos, solteiros, cinquentões, com filhos criados, sede de viver um novo amor, talvez até um novo casamento.


Quando chegou em casa, ela pensou em agradecer a ele pela sessão que acabava de ter com ele. Esclarecedora, cada palavra dita por ele, soara como um libelo para o caminho dela, que o achava sem rumo, sentindo-se perdida como uma vaca solta num imenso pasto.


Compreendeu então que estava livre para escolher que espécie de capim devia comer, onde devia se proteger do verão intenso e talvez pular alguma cerca que ainda a separava da vida lá fora.


Agradeceu a ele, via recado no celular. Ainda assim, esperou por ele por muitas noites e orou por ele, nas manhãs ensolaradas e nos dias nublados.


Ambos estavam solteiros, continuaram a cruzar seus olhares, perdoaram seus arrepios constantes, expuseram-se então, e num dia de sábado, ele a convidou para jantar.


Fundiram-se em um único olhar durante todo o encontro. Ainda permaneceram solteiros distanciados por um bom período. Suficiente foi esse tempo que se permitiram, para refletir sobre o que sentiam e o que esperavam um do outro. Resumiram numa palavra pequena, gasta, corriqueira, mas plena de significados. Amor... essa palavra pôs fim ao seu longo tempo de solteiros, e dali em diante, passaram a ter duas casas, duas camas, dois endereços, duas chances individuais de replantar seu jardim e colher flores para enfeitar seus domicílios. A partir desse dia, buscaram estar juntos, sempre que fosse possível, necessário e prazeroso. E abandonaram o estado "civil"izado, em cerimônia íntima e simbólica, concorrida por familiares e amigos.


A partir de então seriam solteiros aconchegados e próximos. Continuaram a morar em suas casas anteriores e a preservar a tal intimidade tão violada nos dias de hoje. Assim, seriam eternamente visitas na casa um do outro, e brindariam para sempre, juntos, o tal Valentine's Day, a cada fevereiro, numa promessa gratificante, enquanto pudessem ficar assim, solteiros, amigos, amantes, presentes, carinhosos e saudosos um do outro, explicitando um novo modus vivendi, entre os novos solteiros do século XXI. Se realmente viriam a contrair matrimônio, nem eles mesmos sabiam responder. Apenas tinham uma certeza, sua solteirice era compartilhada entre si, e seus sentimentos os entrelaçavam em rituais de carinho e sensualidade, com salutar distância das suas intimidades. Tinham encontrado um modo de viver que os agradava, e seu amor era tão real quanto suas almas podiam alcançar, pois se descobriram felizes e se amando verdadeiramente. Mesmo assim, preferiram continuar solteiros, inteiros, parceiros, amigos, amantes e admiradores um do outro pelo resto de suas vidas. Seriam como dois pássaros a voarem para se bicarem e beijarem todas as vezes que necessitassem um do outro.


Aparecida Torneros

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Julio Iglesias - El amor

Julio iglesias - Despues de ti

Julio Iglesias - Todo el amor que te hace falta

Julio Iglesias - Lo Mejor De Tu Vida (Orginal)

Soy Un Truhan Soy Un Senor - Julio Iglesias

Julio Iglesias & Roberto Carlos - Solamente una vez

Roberto Carlos - Abrazame Así

Roberto Carlos - Adios

AMOR PERFECTO - ROBERTO CARLOS

sábado, 4 de dezembro de 2010

A Bárbara Iansã

A Bárbara Iansã







É fogo! Diria a menina desavisada, diante do seu impasse inusitado quando o mundo parece se dividir em milhões de pedaços incandescentes e são tantos os caminhos a escolher para trilhar.






A luz entontece, a alma se confunde, o peito explode, o universo se faz borbulha de vulcão interno. Ser mulher e ser guerreira se torna sinônimo nessa vida moderna, onde cada boca pintada com batom luminoso grita o coro das corajosas em fila indianamente formada para abraçar felicidade e futuro.






No vai que vai, a senhora prometida amansa as intempéries, mulher quebra tabus, avança no caminho da decisão, ama seu homem, seus filhos, enfrenta a tempestade da sobrevivência. Como formiguinha carregadeira de tarefas, ela viaja nos coletivos que a destinam ao trabalho diário, e sonha com a identificação da deusa mista, nas figuras de Bárbara e Iansã.






- Sou filha de Iansã! Repete a jovem afogueada e risonha, batendo com a mão espalmada sobre o coração na cadência de cada novo dia.






Isso acontece na Bahia, em termos regionais, mas se espalha pelo Brasil, como um inconsciente disseminado através de arquétipos femininos repetidamente cantados nas canções populares e nas festividades do 4 de dezembro.






Mulher de briga, cada filha dela, nada tem a temer quando se posta diante do desafio optando por ser representante do milagre fecundo da procriação.






O fogo dominado pelos bombeiros que invocam sua proteção é mesmo um espectro do calor que vem do útero em furor, da mãe-terra a cuspir labaredas que alimentam fé e glória. Mais que isso, até, chamas que garantem não só a expressão do sincretismo religioso, mas, sobretudo, o teor feminino que só emerge do fogo das paixões.






A menina mestiça que dança nos folguedos da comunidade intui sua condição de seguidora de alma chamuscada, suporte da condição capaz de derreter com olhares, gestos, abraços, beijos, cumprimentos, reverências, volteios, gritos de ordem, cânticos ou lamentos, ladainhas ou “pontos”, rezas ou louvores.






Há que se pedir piedade a Iansã, por cada mãe adolescente, cada mulher vítima da violência doméstica, cada mãe que perde seu filho na loucura do crime, cada esposa cuja ilusão do casamento feliz se esvai no ralo do destrato ou do abandono, cada fêmea em crise existencial, cada executiva imersa no comércio infindo do trabalho em lugar do carinho, cada artista solitária no ofício de emocionar seu público, cada professora empenhada em clarear mentes aprisionadas pela escuridão, cada médica comprometida pela saudável busca do equilíbrio físico e mental, e muitas mais.






Senhora dos relâmpagos, por sobre os mares revoltos, lá vem ela, a Bárbara Iansã, mais uma vez, na ardência do seu estigma, incendiar cada alma feminina, de menina que se faz mulher, a buscar queimar-se na imensidão à sua espera.






Aparecida Torneros

Ponto de Iansã "Maria Bethânia"

Iansã

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

4. Sabes mentir - Djavan / CD Passione Nacional

Sabes mentir

Sabemos mentir...



Nasceu entre nós uma brincadeira de faz de conta
eu fiz de conta que te amei, tu mentiste com muita classe...

Vivemos momentos tão felizes, cheguei a ficar tonta
de tanta felicidade entre nós, como se a vida nos iluminasse...

Houve instantes em que nossos olhos em doce afronta
se perderam um dentro do outro, num perfeito enlace...

Nem pudemos refletir sobre a mania de cada resposta pronta
que trazíamos na  história das nossas vidas, como um passe...

Tínhamos amores frustrados, em nossa história semi-pronta...
Modelos que ousamos repetir, embora isso não nos bastasse...

Mentimos para nós mesmos, na repetida ilusão  que monta
novo quebra-cabeças, xadrez exposto para que se jogasse...

Nem   perdemos, nem ganhamos, somente o empate aponta
o resultado de um sentimento forte, era como se eu te amasse...

Mas talvez tu também tenhas me amado,  um dia, na conta
de um envolvimento emocional incontrolado que te dominasse,

e no auge do  labirinto que  amor é capaz de enredar  cada alma,
eis que a distância nos separa agora, verdade e mentira, a calma,
o  plácido final de um caso, a lembrança de algum beijo doado,
a sensação de  que nem tudo foi perfeito, mas foi laureado,
com a esperança   dos solitários, buscando pares, amores, afetos,
agora, cá estamos, distantes e próximos, saudosos e quietos,
pois nada há mais a fazer nesta   história de mentirosos,
apenas nos resta  mentir mais uma vez...eu digo..."não mais te quero...
tu respondes, nunca te quis verdadeiramente, nem tive contigo amor sincero"...

Cida Torneros